Ansiedade financeira: o que é e qual o seu impacto na saúde mental?

Ansiedade financeira: o que é e qual o seu impacto na saúde mental?

A ansiedade financeira é uma preocupação crescente que vai além das preocupações com o orçamento, ela tem o poder de comprometer o equilíbrio mental, influenciar decisões diárias e prejudicar o bem-estar.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 o Brasil teve o maior índice de ansiedade no mundo, afetando cerca de 18,6 milhões de brasileiros – o equivalente a 9,3% da população.

Dentre os diversos fatores que causam a ansiedade na população, a preocupação com as finanças se destaca como um gatilho bastante comum. Esse tipo de quadro é chamado de ansiedade financeira.

Neste artigo, vamos entender em profundidade o que é a ansiedade financeira, seus principais gatilhos e, sobretudo, como ela afeta a saúde mental, acompanhando os efeitos em diferentes esferas da vida emocional, cognitiva, física e social.

 

O que é ansiedade financeira?

Ansiedade financeira é um tipo específico de ansiedade que se relaciona diretamente ao dinheiro. Ela se caracteriza por um estado de preocupação excessiva, persistente e muitas vezes desproporcional em relação às finanças pessoais.

E se engana quem acredita que a ansiedade financeira só atinge pessoas com baixa renda ou endividadas, mesmo quem ganha bem ou paga todas as suas contas em dia pode sofrer esse mal-estar emocional. Isso acontece porque a ansiedade financeira está mais ligada à percepção de risco e insegurança do que à condição financeira real.

Esse tipo de ansiedade se manifesta por meio de sentimentos de preocupação, medo ou desconforto crônicos relacionados a dinheiro, como dívidas, falta de economia, insegurança no emprego ou medo do futuro. Ela engloba tanto o medo real diante de dificuldades financeiras quanto a antecipação negativa, mesmo sem um problema presente.

 

O que causa a ansiedade financeira?

A ansiedade financeira pode surgir por diversas razões, que variam conforme o contexto de cada pessoa. Entretanto, as principais causas para esse quadro são:

Dívidas excessivas e falta de poupança

O acúmulo de dívidas, como faturas de cartão de crédito, empréstimos, combinado com a ausência de reserva financeira é uma das causas mais apontadas para a ansiedade relacionada ao dinheiro.

Quando as obrigações crescem sem controle, a sensação de sufocamento financeiro torna-se constante, alimentando medos intensos sobre ser capaz ou não de quitar as contas no futuro.

Renda instável ou insuficiente

Viver com uma renda incerta (como trabalhos temporários ou por projeto) ou mesmo com uma renda regular que mal cobre as despesas, gera uma impressão constante de estar “no limite”.

Essa falta de equilíbrio faz com que a pessoa viva em estado de alerta, temendo a cada mês se será possível pagar as contas, comprar mantimentos ou mesmo economizar. Essa inconstância aumenta o estresse e a sensação de vulnerabilidade.

Perda de fonte de renda

O medo de perder o emprego, sofrer cortes salariais ou ter a renda reduzida é apontado pela maioria dos brasileiros como um dos principais gatilhos para o estresse e ansiedade financeira.

A insegurança diante de um cenário de desemprego ou redução de renda aumenta a sensação de risco permanente, deixando a mente em estado de tensão contínua.

Despesas imprevistas

Eventos como emergências médicas, reparos, separações ou qualquer outro tipo de gasto inesperado pode desequilibrar totalmente o orçamento.

Principalmente quando não há uma reserva de emergência, essas situações geram um grande desgaste emocional e a sensação de vulnerabilidade, já que a pessoa acaba ficando com medo do que poderá acontecer a curto prazo.

Pressão social e expectativas

Viver sob a ilusão de que se precisa acompanhar padrões de consumo muitas vezes inalcançáveis, frequentemente reforçados por familiares, colegas ou redes sociais, cria uma tensão silenciosa.

Aquele desejo de manter um nível de vida “aceitável” impõe pressão emocional adicional, levando pessoas a gastar mais do que têm, acumular dívidas ou viverem preocupadas com a opinião alheia.

Falta de educação financeira

Não entender como gerir o orçamento, poupar dinheiro, investir, renegociar dívidas e solicitar empréstimos com responsabilidade faz com que as pessoas se sintam inseguras diante das suas escolhas.

Além disso, esse desconhecimento faz com que as pessoas percam ótimas oportunidades de fazer seu dinheiro crescer ou até mesmo fazerem empréstimos que não precisam e com taxas abusivas.

Instabilidade macroeconômica

Inflação alta, crises econômicas, aumento das taxas de juros ou recessões globais influenciam o comportamento financeiro. A percepção constante de que o poder de compra está ameaçado, aliada à falta de controle sobre esses fatores externos, aumenta a sensação de impotência e alimenta a ansiedade sobre o futuro.

 

Quais os sintomas da ansiedade financeira?

A ansiedade financeira manifesta-se por uma série de sintomas que se estendem por diferentes esferas da vida, incluindo aspectos emocionais, físicos, cognitivos e sociais.

Confira alguns dos principais sintomas a seguir:

  • Preocupação constante: a mente permanece em estado de alerta, com pensamentos obsessivos sobre dinheiro, economia ou dívidas, mesmo quando não há uma urgência real.
  • Irritabilidade e mudanças de humor: quem enfrenta ansiedade financeira costuma apresentar irritação excessiva, mudanças abruptas no humor e sensação de pânico ou angústia mesmo em situações cotidianas.
  • Dificuldade de concentração e procrastinação: a constante preocupação cria um ruído mental que atrapalha a concentração. Isso leva a procrastinação, pois a pessoa evita lidar com as finanças para fugir do desconforto. Esse hábito não apenas reduz a produtividade, como alimenta um ciclo de culpa e ansiedade.
  • Insônia ou sono interrompido: a preocupação com dinheiro frequentemente monopoliza a mente na hora de dormir, causando insônia, despertares noturnos e dificuldade para relaxar.
  • Tensão muscular e dores de cabeça: o estresse permanente provoca tensão no corpo, resultando em dores musculares, enxaquecas, sensação de peito pesado e desconforto constante, que são consequências do estresse crônico.
  • Isolamento social: a ansiedade relacionada ao dinheiro muitas vezes leva ao afastamento de atividades sociais, como encontros, eventos ou mesmo conversas com amigos e familiares. Esse comportamento de evitação ocorre por vergonha, medo de gastar, ou por não conseguir falar sobre finanças.

Além desses sintomas, também pode-se observar conflitos nos relacionamentos, comportamentos compulsivos e distúrbios de memória.

 

Qual o impacto da ansiedade financeira na saúde mental?

A ansiedade financeira vai além de preocupações econômicas. De acordo com a Pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2022, realizada pelo Instituto Opinion Box em parceria com a Serasa, os principais impactos na saúde da população que sofre com esse tipo de ansiedade são:

Aumento do estresse, ansiedade e depressão

Quando as dívidas se acumulam, o sistema emocional do indivíduo é sobrecarregado. A pesquisa revela que 61% das pessoas vivenciam essa sensação de “crise e ansiedade” ao pensar em suas dívidas, enquanto 78% relatam que sofrem com surtos de pensamentos negativos relacionados aos débitos.

Essa sobrecarga mental constante intensifica o estresse diário e abre caminho para problemas de saúde mental mais sérios, como depressão e transtornos de ansiedade, criando um efeito amplificador no sofrimento psicológico.

Queda na autoestima e bem-estar

Sentir-se incapaz de honrar os compromissos financeiros tende a diminuir significativamente a autoconfiança e autoestima. Mais da metade dos entrevistados (51%) confessam sentir vergonha por estar endividado, e 53% relataram profunda tristeza ou medo em relação ao futuro. Ainda, 33% das pessoas alegaram que não se sentem mais confiantes em cuidar das suas próprias finanças.

Esse conjunto de emoções fragiliza o senso de valor próprio, reduzindo o bem-estar mental e emocional.

Problemas de sono e fadiga

Esse estresse e ansiedade financeira também impactam negativamente o sono. Dos entrevistados, 83% afirmam que têm dificuldade para dormir devido às dívidas.

A insônia crônica faz com que a pessoa sinta uma diminuição na sua energia e disposição diária, causando cansaço mental e físico, o que compromete não apenas a sua qualidade de vida, mas também a capacidade de enfrentamento do problema.

Impacto cognitivo e comportamental

A tensão financeira compromete a atividade mental e o foco no dia a dia. Cerca de 74% dos participantes da pesquisa relataram dificuldade para se concentrar em tarefas cotidianas.

A preocupação constante consome recursos cognitivos essenciais, prejudicando as tomadas de decisão no trabalho e até em atividades simples do dia a dia, gerando um ciclo de ansiedade e ineficiência.

Conflitos e isolamento social

A crise emocional provocada pela dívida ameaça relacionamentos. Entre os respondentes, 62% relataram impactos negativos em seu relacionamento conjugal, e 31% passaram a se distanciar da família.

Essa tensão costuma resultar em isolamento, discussões frequentes e redução da sua rede de apoio, justamente quando a pessoa mais precisa de suporte emocional e compreensão.

 

Como saber se estou com ansiedade financeira?

Para identificar se você está com ansiedade financeira, observe os sinais mentais, físicos e comportamentais que podem se manifestar de forma contínua no seu dia a dia.

Abaixo, estão os principais indícios:

  • Preocupação excessiva com dinheiro;
  • Inquietação e sensação de pânico ao lidar com as finanças;
  • Dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia, por conta das contas a pagar;
  • Irritabilidade ou oscilações de humor;
  • Pensamentos negativos automáticos.

Se esses sinais aparecem de forma persistente, interferindo na sua rotina, trabalho, relacionamentos ou autocuidado, é hora de agir. O diagnóstico formal é feito por um profissional, mas é possível perceber se a ansiedade financeira está influenciando negativamente o seu cotidiano.

 

Como lidar com a ansiedade financeira?

A ansiedade financeira não precisa ser enfrentada sozinha. Existem estratégias práticas e emocionais que, quando combinadas, ajudam a reduzir o estresse, restaurar o equilíbrio e melhorar o bem-estar geral.

Abaixo, confira algumas orientações que podem te ajudar nesse momento:

1.   Entenda e organize suas finanças

O primeiro passo é realizar um diagnóstico da sua situação financeira atual. Para isso, registre detalhadamente suas receitas, despesas fixas e variáveis, dívidas e reservas financeiras. Isso vai ajudar a reduzir as incertezas e dar um melhor embasamento para as decisões a serem tomadas.

Depois, crie metas claras, estabelecendo objetivos financeiros tangíveis, como quitar as dívidas atuais ou iniciar uma reserva de emergência. Objetivos bem delimitados trazem motivação e sensação de progresso, reconstruindo sua confiança financeira.

2.   Planeje e tome ações práticas

Entenda quais gastos supérfluos podem ser reduzidos nas suas despesas mensais, como assinaturas, planos caros e pedidos de delivery. Com isso, veja o que pode ser reduzido, cancelado ou renegociado com o prestador do serviço.

Outra alternativa para quem possui dívidas, é entrar em contato com os credores para buscar por uma renegociação do contrato ou a portabilidade do crédito para uma nova instituição que ofereça melhores condições de pagamento.

Ainda, defina um dia fixo no mês para revisar e ajustar o seu orçamento. Isso vai te ajudar a manter suas finanças planejadas e atualizadas ao longo do tempo.

3.   Busque apoio

Compartilhar sua situação com familiares e amigos de confiança é fundamental para diminuir o peso emocional, encontrar apoio e pensar em soluções para a diminuição da ansiedade e de possíveis problemas financeiros.

Caso os sintomas da ansiedade sejam mais intensos, é importante consultar um terapeuta para tratar dos sintomas e buscar uma ajuda profissional para superar esse quadro psicológico.

4.   Mantenha um estilo de vida saudável

Ter uma rotina saudável de sono, alimentação e exercícios também pode ajudar muito quem está com quadro de ansiedade. Os hábitos saudáveis fortalecem o corpo e a mente, ajudando a regular o sistema nervoso, fazendo com que você se sinta melhor consigo mesmo e motivado a buscar por soluções.

Considere também praticar atividades prazerosas que reduzem a tensão e melhoram o humor. Desenvolver um hobby, meditar, caminhar, pintar ou fazer algo que você gosta funciona como uma válvula de escape para o estresse, além de trazer satisfação pessoal.

Agora que você já sabe quais são os sintomas da ansiedade financeira e o que fazer para lidar com essa situação, chegou a hora de colocar em prática esses aprendizados para melhorar a sua saúde mental, física e financeira.

 

Confira outros conteúdos como este na editoria Salvando Grana no blog do Digio. Eles são uma ótima fonte de conhecimento para te ajudar a melhorar sua educação financeira e encontrar saídas para suas dívidas.


Compartilhar o artigo